Zumbis nunca são apenas zumbis. Eles sempre carregam simbolismos, como doenças, como em Guerra Mundial Z, ou estados emocionais infecciosos, como pânico e medo, em The Walking Dead. Às vezes, eles representam a transformação humana em monstros — esse “todo humano tem um monstro dentro de si” (como os lobisomens, por exemplo). Na primeira temporada de The Last of Us, a premissa de uma infecção fúngica parecia uma metáfora para doenças contagiosas, mas a adaptação da HBO foi mais longe: ela queria explorar o quanto a humanidade começa a refletir os próprios cogumelos infecciosos, voltando-se uns contra os outros em busca de sobrevivência, sem escrúpulos, escolhendo a violência em vez da misericórdia.
A Profundidade da Segunda Temporada: Escolhas Impossíveis
Na segunda temporada, The Last of Us continua a explorar como a escassez e o caos podem endurecer as pessoas, fazendo com que se tornem algo que talvez nunca tivessem imaginado. A série se aprofunda ainda mais em escolhas difíceis e no momento exato em que um personagem precisa decidir onde está o limite — quando uma escolha leva a um caminho irreversível? Como essas decisões desencadeiam uma cadeia de violência retributiva e é possível escapar desse ciclo vicioso?
Sim, os infectados ainda estão por aí. Eles sempre estarão. Mas, à medida que a temporada avança, The Last of Us foca cada vez mais nas escolhas morais dos personagens, nos dilemas pessoais que surgem com a catástrofe e no quanto esses conflitos afetam suas ações.
A Mudança de Perspectiva: De Sobrevivência para Relações Pessoais
Como o jogo The Last of Us Part II, a segunda temporada começa com um salto temporal de cinco anos, quando Joel (Pedro Pascal) e Ellie (Bella Ramsey) estão agora integrados a uma comunidade bem defendida em Jackson, Wyoming. Eles têm comida, abrigo e a segurança da comunidade, mas, especialmente Joel, está insatisfeito. Algo mudou em seu relacionamento com Ellie, e até ele começa a conversar com um terapeuta local sobre a tristeza que o consome. Isso mostra o quanto é fácil para as pessoas se reajustarem à segurança. Agora, há espaço até para terapia regular, como ilustrado por Catherine O’Hara interpretando a psiquiatra local.
Na temporada anterior, a história de Joel e Ellie foi mais marcada por interações com personagens secundários, mas agora, com o tempo que passaram em Jackson, as relações com pessoas como o irmão de Joel, Tommy (Gabriel Luna), a amiga de Ellie, Dina (Isabela Merced), e o líder jovem Jesse (Young Mazino), se aprofundam.
A grande novidade na temporada é a personagem Abby (Kaitlyn Dever), que entra em cena com uma missão de vingança — ela está determinada a matar o homem responsável pela morte de seu pai na primeira temporada. (E, inevitavelmente, esse homem é Joel.)
Conflitos Novos e Dinâmicas de Luta
Embora ainda haja muitas sequências assustadoras e confrontos intensos (ecoando a primeira temporada), a segunda temporada se afasta da ideia de que a luta pela sobrevivência contra os infectados seja o maior desafio. Agora, os personagens enfrentam dilemas pessoais, como a traição da confiança ou a tentação de infligir punição olho por olho. A escolha do bem coletivo se torna uma questão mais relevante do que a satisfação individual.
Abby, Dina e Jesse se destacam como personagens muito bem formados, mais completos do que muitos dos personagens secundários da primeira temporada. Já Ellie se torna o centro de uma série de questões morais e filosóficas, com Bella Ramsey entregando uma performance impecável no papel.
O Mundo Expandido e os Desafios Narrativos
Em termos de adaptação, The Last of Us foi eficaz em manter a essência do original, mas a transição para a TV não foi sem desafios. O jogo possui uma estrutura de saltos temporais, flashbacks e múltiplos pontos de vista que foram difíceis de traduzir para a tela. A série tem que fazer escolhas importantes sobre como lidar com essas narrativas paralelas. Ao longo da temporada, Ellie e Dina encontram o culto Seraphites e a organização WLF (uma facção militar em Seattle), mas a série não aprofunda esses grupos como poderia, deixando muitas dessas narrativas em aberto, o que pode frustrar quem está esperando mais explicações sobre o pano de fundo dessas facções
O Futuro da Série: Reflexões Sobre a Paternidade e as Consequências
Embora a temporada explore diversos aspectos de morais e decisões difíceis, a essência de The Last of Us continua sendo a relação entre Joel e Ellie. A série questiona o que é ser pai, o quanto é difícil deixar os filhos crescerem e se tornarem seus próprios indivíduos.
A temporada culmina em um dos episódios mais emocionais da série, quando Joel e Ellie têm um tempo longe da violência do apocalipse para simplesmente estarem juntos. Em meio ao caos, esse momento de conexão é, sem dúvida, um dos mais impactantes.
Conclusão: Uma História de Zumbis Com um Toque Diferente
The Last of Us prova que uma história de zumbis pode ser mais do que apenas correria e carnificina. A segunda temporada traz à tona questões muito mais profundas sobre as consequências das escolhas humanas e o custo da violência em um mundo quebrado. Enquanto os infectados continuam sendo uma ameaça constante, as questões morais e as dilemas pessoais são agora o centro de tudo